segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Chata ou Sans soleil

Acho que a falta de vitamina D está me deixando amarga e reclamona.
Ou seria tempo demais exposta aos franceses...?

domingo, 7 de novembro de 2010

Alô, comunidade

(Notas sobre meu novo endereço, na cidade universitária.)

Toc toc toc nheee BLABLABLA toc toc toc rrrrr BLA BLA bla bla BLA (em uma língua do Leste Europeu) toc toc TOC TOC NHEEE.
Quanto barulho a vizinha de cima pode fazer ininterruptamente em tão poucos metros quadrados?
Acho que hoje ela recebeu amigos para o almoço, cujo menu incluía massa e pedacinhos misteriosos de frango (?) cozidos numa grande panela por 2 meninos altos.
Mas por que eles fazem tanto barulho no terceiro andar?

Viver em comunidade é um exercício constante de paciência, de curiosidade para com a vida alheia, de inveja dos outros prédios mais novos e mais bonitos e de falta de vergonha para andar pelos corredores despenteada e de roupão. É um desafio; sobretudo o de se desprender de coisas mundanas como a própria privada, o próprio chuveiro, a própria rede de internet, as próprias placas elétricas do fogão, a própria privada.
E a própria vida privada de todos os moradores fica no limite tênue dessa prática compartilhada entre estranhos - moramos juntos, mas separados. Dividimos as mesmas privadas, mas não nossas vidas.

Eu não sei se eu vou ficar amiga da carioca do 160, do oriental que cozinha legumes e verduras (enquanto eu faço meu prato monotemático macarrão-à-bolonhesa), do menino fefelechento que deixa a porta aberta, do meu vizinho musculoso...
Aliás, um dos documentos que eu vou ter de fornecer à longa lista de chateações burocráticas neste país é um certificado de aptidão para a vida em coletividade*. Eu não sei se eu estou apta a viver em coletividade, eu não aguënto, por exemplo, a burocracia francesa. E eu não gosto de dividir privada.

Mesmo assim, por enquanto, estou tentando aprender a viver na coletividade do prédio Gréard, Porta C.

*É um atestado médico, na verdade, mas que, só pelo título, e outras coisas mais, vai para a coleção de absurdos dos franceses.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dentes, pátria e seres humanos fedidos.

Sempre há pessoas fedidas na biblioteca. Dessa vez, quando um velho fedido sentou no lugar ao lado do meu, eu não me surpreendi. Porém, eu arrisquei olhar para o indivíduo, e então eu vi: os dentes dele, para fora e para frente, todos podres. Era um necrotério dentário, uma dentadura moribunda... e eu sentia o cheiro da podridão do monsieur. Ele respirava e tossia para o ar o cadáver em decomposição que morava ali dentro.


Quando os inúmeros estrangeiros, com seus sotaques imperfeitos e suas caras inseguras, solicitam um visto de permanência, uma das exigências do governo francês é um exame médico, no qual o médico mal-humorado que os recebe verifica, entre a rotina de exames, seus dentes.
Se ter uma boa higiene bucal é uma condição para um estrangeiro residir na França, por que o Estado não expatria os franceses que não cuidam dos dentes, logo, do bem-estar nacional?
Da próxima vez, monsieur, eu vou vomitar em cima da sua pesquisa. E, ao invés de levantar em desespero à procura de um outro lugar, eu não vou reprimir meu impulso e vou te agredir fisicamente.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Paixão nacional

O esporte favorito dos franceses não é reclamar-e-bufar, não é comprar a Copa do Mundo, não é ser arrogante nem beber vinho nem fazer manifestações. O esporte dos franceses é correr.
Corre-se na neve, corre-se sob chuva, corre-se de All Star e no metrô.
Corre-se sozinho ou em grupo.
Hoje eu vi uma família toda correndo no parque - o pai, a mãe, a filha e o poodle. Na terceira volta o pobrezinho já escancarava a língua e não alcançava nem a menina.
Eu só não entendo, meu Deus!, para onde vai tanta endorfina?!

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A tua cozinha tá cheia de ratos

No Oriente, conta-se que o rato trouxe o arroz ao ser humano. Hoje, em Paris, a lenda vive.

Há mais de 6 milhões de ratos na cidade. Dependendo da área, a densidade demográfica desses roedores urbanos pode chegar a um número de 8 a 10 ratos por habitante. Em cinco anos, a população aumentou 40%. Eles são criaturas espertas e resistentes, segundo os cientistas, e são capazes de escalar, nadar, cavar... e cozinhar.
Desde o mês passado, eles têm me chamado a atenção por suas aparições repentinas e fugazes e freqüentes, e pela revelação de um sub-mundo oculto de ratazanas e camundongos.

Hoje, fui com a Laura ao restaurante japonês por onde passou o cineasta japonês Takeshi Kitano quando ele veio a Paris. Isso foi uma grande descoberta da Laura, e um atestado da autenticidade do sushi servido ali. Como já era tarde, no salão do térreo só havia eu, a Laura e as duas japonesas sorridentes no balcão. Porém, enquanto eu tentava pegar o arroz com os palitos e ouvia a Laura falar sobre neologismos e traduções, ouvimos um barulho sutil e rápido que vinha do chão, e sentimos a Presença de uma criatura que passou pelos pés das mesas e cadeiras até entrar debaixo do sofá onde a Laura estava sentada. Eu olhei tentando procurar a origem do barulho, e vi: o vulto de um ratinho. O vulto de um ratinho no restaurante.

Vamos dar nossos cumprimentos ao chefe, Laura. Você não vai terminar de comer? Foi ele que preparou!

Fonte, para dizer que eu não estou exagerando: http://www.liberation.fr/vous/0101626131-rats-de-maree-sur-paris

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ratatouille

Criaram Ratatouille para que, quando a gente visse um rato em Paris, nosso nojo fosse imediatamente substituído pela imagem fofa de uma comunidade secreta de ratos gordinhos da Disney.

domingo, 11 de abril de 2010

Springtime for Sarkozy

Hm... algo está acontecendo com Paris. Finalmente as folhas da árvore do vizinho vão bloquear sua possível vista da minha janela sem cortina, faz uma semana que não chove e a fonte da Porte Dorée voltou a funcionar, e a fazer um barulho de chuva. Nesse fim-de-semana, os vizinhos ricos do meu vizinho rico dono da árvore fizeram suas refeições no jardim e celebraram a primavera e o judaísmo.
Bicicletas, corredores, crianças, o Louco do Cabelo Branco... as ruas estão tomadas por eles.

Estaria o pólen alterando a percepção dos franceses?

...

Isso não é uma pergunta retórica. Paris, I'll be watching you.