Sempre há pessoas fedidas na biblioteca. Dessa vez, quando um velho fedido sentou no lugar ao lado do meu, eu não me surpreendi. Porém, eu arrisquei olhar para o indivíduo, e então eu vi: os dentes dele, para fora e para frente, todos podres. Era um necrotério dentário, uma dentadura moribunda... e eu sentia o cheiro da podridão do monsieur. Ele respirava e tossia para o ar o cadáver em decomposição que morava ali dentro.
Quando os inúmeros estrangeiros, com seus sotaques imperfeitos e suas caras inseguras, solicitam um visto de permanência, uma das exigências do governo francês é um exame médico, no qual o médico mal-humorado que os recebe verifica, entre a rotina de exames, seus dentes.
Se ter uma boa higiene bucal é uma condição para um estrangeiro residir na França, por que o Estado não expatria os franceses que não cuidam dos dentes, logo, do bem-estar nacional?
Da próxima vez, monsieur, eu vou vomitar em cima da sua pesquisa. E, ao invés de levantar em desespero à procura de um outro lugar, eu não vou reprimir meu impulso e vou te agredir fisicamente.