domingo, 7 de novembro de 2010

Alô, comunidade

(Notas sobre meu novo endereço, na cidade universitária.)

Toc toc toc nheee BLABLABLA toc toc toc rrrrr BLA BLA bla bla BLA (em uma língua do Leste Europeu) toc toc TOC TOC NHEEE.
Quanto barulho a vizinha de cima pode fazer ininterruptamente em tão poucos metros quadrados?
Acho que hoje ela recebeu amigos para o almoço, cujo menu incluía massa e pedacinhos misteriosos de frango (?) cozidos numa grande panela por 2 meninos altos.
Mas por que eles fazem tanto barulho no terceiro andar?

Viver em comunidade é um exercício constante de paciência, de curiosidade para com a vida alheia, de inveja dos outros prédios mais novos e mais bonitos e de falta de vergonha para andar pelos corredores despenteada e de roupão. É um desafio; sobretudo o de se desprender de coisas mundanas como a própria privada, o próprio chuveiro, a própria rede de internet, as próprias placas elétricas do fogão, a própria privada.
E a própria vida privada de todos os moradores fica no limite tênue dessa prática compartilhada entre estranhos - moramos juntos, mas separados. Dividimos as mesmas privadas, mas não nossas vidas.

Eu não sei se eu vou ficar amiga da carioca do 160, do oriental que cozinha legumes e verduras (enquanto eu faço meu prato monotemático macarrão-à-bolonhesa), do menino fefelechento que deixa a porta aberta, do meu vizinho musculoso...
Aliás, um dos documentos que eu vou ter de fornecer à longa lista de chateações burocráticas neste país é um certificado de aptidão para a vida em coletividade*. Eu não sei se eu estou apta a viver em coletividade, eu não aguënto, por exemplo, a burocracia francesa. E eu não gosto de dividir privada.

Mesmo assim, por enquanto, estou tentando aprender a viver na coletividade do prédio Gréard, Porta C.

*É um atestado médico, na verdade, mas que, só pelo título, e outras coisas mais, vai para a coleção de absurdos dos franceses.

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