sexta-feira, 12 de março de 2010

Estação Place d'Italie

As inúmeras passagens subterrâneas de Paris guardam abaixo da Place d'Italie, no 13˚ arrondissement, a estação Place d'Italie, da linha 6 do metrô, a verde-clara (e também a 5, laranja, e a 7, rosa).

A Place d'Italie é onde começa o Chinatown da cidade, que também é habitado por indianos, latino-americanos, africanos, japoneses, franceses, árabes... Mas sua atração mesmo é o que há embaixo, onde toda essa diversidade cultural se une.

A grande massa anônima que circula pelos corredores sem ventilação do metrô tem suas pequenas recompensas diárias. De manhã, alternam-se ao lado da máquina distribuidora de bebidas e porcarias de comer duas duplas de artistas - os peruanos com suas flautas típicas e o hit da colonização (música-tema do filme "1492"), e a mulher loira cantora, com seu ajudante de cabelo branco. Os peruanos exibem seu CD à venda, e a mulher loira cantora canta bem alto no microfone músicas francesas. Todos têm a caixa de som para aumentar a potência do seu show pelas paredes da Place d'Italie.

Existem também artistas nômades entre os vagões dos trens. Um deles, por exemplo, o que tem sotaque hispânico, canta com seu violão o imutável combo: "Stand by Me", "Cantare, ô, ô" e, para terminar e agradar os autóctones, "Champs Elisées". E tem também o semi-bêbado que fede e acha que sabe cantar, mas é desafinado e pensa que vai agradar os viajantes desse jeito... Ele, particularmente, me irrita, mas ganha gorgetas.

Ele podia se juntar aos bêbados que vivem na gare da linha 7. Cada um tem seu saco de dormir e sua garrafa de vinho. Eles estão sempre conversando, ou bebendo, ou fumando, ou jogando cartas, ou lendo. Porém, não se misturam com as armênias, que ficam sentadas sobre as escadas dos corredores, com a mão estendida e com plaquinhas de papelão pedindo misericórdia.
Se você tiver muita sorte, por volta das 15h00, pode encontrar o mendigo mais bonito que eu já vi na minha vida. Ele tem por volta de 27 anos, é limpo, possui uma mochila, e senta-se na escada em direção à linha 6 com uma placa: "J'ai faim". Fome do quê, homem?

A estação Place d'Italie também possui seus odores típicos. Com a má circulação do ar, e a pouca preocupação com a limpeza nesse país, o metrô exala um cheiro agridoce crônico, que mistura os produtos de limpeza com o cheiro dos mendigos e das pessoas e do trem que passa.

Um outro aspecto da estação é seu comércio ambulante. De novo, se você estiver no lugar certo e na hora certa, pode encontrar expostos sobre os tecidos dos indianos muitos filmes piratas e objetos como cintos, luvas, gorros, colares, carteiras, relógios, todos de marca. Ao lado de seus produtos, os indianos ficam de pé em duplas, observando as meninas que desfilam ecoando o barulho dos saltos e as adolescentes que passam rindo e atrapalhando o fluxo.

Eu passo também, desviando delas e tentando ser positiva e pensar que, por exemplo, melhor que a Place d'Italie na hora do rush, existe Chatêlet-les Halles...

2 comentários:

Laura Rebessi disse...

adorei o anti-guia!
ou, no seu caso, o guia re-tourné ;)

Unknown disse...

Mano, que super legal!

Eu também me irritava com as pessoas que vinham cantar no metrô em Paris... Aqui quase não tem mendigo - como diz o Nicolas, até tem, mas são tão poucos que, depois de um tempo, você os conhece pelo nome! - mas tem aqueles tiozinhos que entram em bares e restaurantes pra vender rosas...

E eu vi um cara ser perseguido e preso no centro da cidade, outro dia. Acho que os policiais estavam à paisana, porque o algemaram e tudo, mas estavam com roupas normais... A brasileira aqui, criada pra sentir medo, já viu uns caras correndo na rua e saiu correndo na outra direção achando que era arrastão... A alemãozada nem deu acordo de nada e SÓ DEPOIS que o cara tava algemado que perceberam algo... francamente, né!